sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Ações do Teias estreitam relação com Ministério da Saúde




                                                           Filipe Leonel



    Ainda há muito a fazer, mas o reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo Programa Território-Escola Manguinhos (Teias) veio na forma de convite do diretor do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde (DAB/MS), Heider Aurélio Pinto, para a elaboração de parcerias e a realização de uma oficina para trocar experiências e discutir os próximos passos da Política de Atenção Básica. A iniciativa ocorreu durante a última mesa do seminário Inovação em Atenção Primária à Saúde, na quinta-feira (4/10), quando foram apresentadas as experiências do consultório na rua e do Núcleo de Atenção à Saúde da Família (Nasf).



“Podemos estabelecer uma parceria importante, pois vocês possuem uma condição singular: terem um conjunto de profissionais envolvidos, dedicados e em processo de formação - o que é característico da ENSP. A Escola tem essa peculiaridade sem se tornar um espaço fora da realidade, se relacionando com os diversos atores desse campo. Isso faz com que tenhamos um ambiente produtivo para o debate”, afirmou Heider Pinto após as apresentações da mesaAcesso de qualidade na saúde da família em Manguinhos.



O diretor propôs, ainda, o estabelecimento de um diálogo direto com a Escola, a partir da realização de uma oficina para troca de experiências. Nela, seriam debatidos o planejamento de 2013 do Ministério da Saúde na Política de Atenção Básica, as novas formas de avaliação do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), os Nafs e consultórios na rua. “A ideia dessa oficina também é aproveitar os resultados da nossa avaliação e apresentarmos de antemão à Escola o que propomos para a política nacional no próximo ano. Além disso, queremos promover uma troca com o que vocês já têm de sistema de avaliação e informação”, anunciou o diretor.



O entusiasmo de Heider ficou evidente após as apresentações das componentes do Teias-Manguinhos, Valeska Holst Antunes, que falou sobre Acesso e Qualidade na Atenção Primária; Mirna Teixeira, que abordou Nasf Manguinhos: apoio às equipes de saúde da família; e a psicóloga do consultório na rua, Christiane Sampaio, que apresentou as experiências da iniciativa.



Olhar sobre o Território - o tamanho do desafio 



“O que é pensar acesso e qualidade para Manguinhos?”, questionou Valeska Holst no início de sua apresentação. De acordo com ela, trabalhar em uma região conhecida por possuir um dos piores índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Rio de Janeiro, com tripla carga de doenças, alto índice de mortes por violência, além de outras altas taxas de morbimortalidade, é algo extremamente desafiador. Isso porque, segundo Valeska, esses índices são acompanhados de uma série de problemas mentais e adoecimentos físicos que geram maior procura pelo serviço de saúde. “Somos o espaço que as pessoas têm como referência e buscam o acesso como um todo” afirmou a palestrante, revelando que as unidades de atenção primária tem uma demanda média de 5 mil atendimentos por mês e Manguinhos possui 13.220 famílias residentes, com uma população de 36.399 pessoas.



Sobre as ações de acesso e qualidade na atenção primária do Teias-Manguinhos, mencionou os consultórios de rua, a educação permanente, o Nasf, o Pmaq e a busca constante por excelência nas práticas. “Estamos em constante reavaliação e adequação do processo de trabalho. Somos escola, e é muito bom ter a residência, receber alunos de graduação, acadêmicos, bolsistas. Isso nos obriga a sempre buscarmos a nossa qualificação.” 



O Nasf



“Uma proposta que vem ajudar a ampliar o acesso e qualidade no atendimento”. Foi assim que a pesquisadora do Teias-Escola Manguinhos, Mirna Teixeira, definiu o Núcleo de Atenção à Saúde da Família (Nasf). Sua implantação em Manguinhos teve início em 2010, com uma demanda inicial das equipes de saúde da família nas especialidades médicas (pediatria, ginecologia, psiquiatria e cardiologia). Hoje, possui 11 profissionais contratados, mais o apoio de funcionários do CSEGSF. "O Nasf Manguinhos se consolidou como uma iniciativa que busca promover o apoio matricial às equipes de saúde da família (ESF), a fim de contribuir com práticas que propiciem um cuidado integral aos usuários. O Núcleo é um potente articulador de rede. Seu objetivo é ampliar potência, e a principal tecnologia que usamos é a relação construída no processo de trabalho, no dia a dia das equipes”, afirmou.



Apenas 6% da população em situação de rua é de Manguinhos



Uma iniciativa desafiadora para ampliar o acesso ao cuidado da saúde das pessoas em situação de rua foi o tema exposto pela psicóloga Christiane Sampaio, que apresentou Consultório na rua de Manguinhos, e falou sobre uma das principais vulnerabilidades do território: o consumo de drogas. “As pessoas do nosso local convivem com o lixo, a falta de escolas públicas e atividades recreativas, a violência e a presença dos usuários de drogas. Quando falamos das pessoas em situação de rua em Manguinhos, falamos desses usuários, pois 99% dos cadastrados no nosso serviço revelaram ser usuários."



A palestrante afirmou que ainda é uma dúvida para a equipe saber o que desencadeou essa relação do usuário de drogas com a rua. "Não sabemos o que vem primeiro, ou o que desencadeou essa relação do usuário de droga com a situação de rua; mas nossas pesquisas apontam que elas se complementam. As pessoas estão na rua em busca de algo e, pelo que parece, pode ser as drogas”. Essa justificativa se baseia no fato de 16% da população de rua de Manguinhos ser de outras regiões do município do Rio, com 10% provenientes de outros estados e apenas 6% da própria região de Manguinhos. “Notamos que tem algo que atrai as pessoas para cá. E o grande atrativo é a droga”, completou. 



A implantação do consultório na rua foi em setembro de 2011. A busca para propiciar uma atenção integral e longitudinal ao seu público-alvo faz com que a equipe tenha de traçar estratégias para criar vínculo com essas pessoas. “Por atender toda a população em situação de rua no território de Manguinhos, a estratégia de saúde visa minimizar os danos sociais e das vulnerabilidades advindas do consumo de drogas. Para isso, se faz necessário mudar o foco da abstinência (parar de usar) para o foco do autocuidado, da melhoria da qualidade de vida, da redução de danos. Pesquisas demonstram que o fim da lua de mel com as drogas se dá após dez anos de uso. Com a entrada da redução de danos esse tempo cai pela metade. Em cinco anos, o usuário se sente mais preparado para pedir ajuda.”



Por último, Christina apresentou o perfil da população em situação de rua em Manguinhos. A grande maioria (56%) está na faixa etária entre 18 e 28 anos, é da cor parda (58%), sexo masculino. A grande maioria é consumidora de crack (60%), seguido do tabaco (50%), álcool e cocaína (30%). 



                              



O diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, Antônio Ivo de Carvalho, e a superintendente da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, Betina Durovni, encerraram o evento.

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