sexta-feira, 4 de maio de 2012

Hanseníase e a importância da informação e diagnóstico precoce

                                                    Acesso ao diagnóstico, informação e tratamento com poliquimioterapia formam a tríade estratégica para a eliminação da hanseníase no país. Segundo o Ministério da Saúde, o combate a esta doença, que hoje representa um problema de saúde pública, precisa de esforço conjunto para a interrupção da cadeia de transmissão da endemia, o que envolve ações de vigilância em saúde e atenção aos pacientes. Trabalhando com este norte, o médico do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP) Ziadir Francisco Coutinho, todos os anos, junto com outros profissionais da área e também do Ambulatório Souza Araújo, do Instituto Oswaldo Cruz (ASA/IOC/Fiocruz), realiza campanhas de conscientização voltadas para os pacientes e também para os profissionais que atuam no território de Manguinhos.

O Brasil é o segundo país que mais registra novos casos de hanseníase por ano no mundo. Em 2011, o país ultrapassou 30 mil novas notificações. Porém, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil mantém queda na incidência da hanseníase. Entre 2010 e 2011, o coeficiente de detecção de casos novos caiu 15%. Entre menores de 15 anos, esse percentual baixou 11%, mas a incidência ainda é preponderante. Vale ressaltar que o tratamento da doença, que tem cura, é gratuito e pode ser realizado em qualquer unidade de saúde do SUS. Em consonância com a Campanha Nacional Contra a Hanseníase, desenvolvida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, celebrada em 5 de maio, a ENSP promoveu diversas palestras e ações de busca ativa e diagnósticos durante todo o mês de abril. As palestras aconteceram no Centro de Saúde Escola da ENSP e também na Clínica da Família Victor Valla.

Além disso, junto com o Dia D de mobilização nacional da Campanha de Vacinação contra Gripe e o encontro Leopoldo Bulhões: o Caminho da Paz, marcado para 5 de maio, será realizada a Campanha Nacional contra a Hanseníase. Durante o evento, informações e esclarecimentos serão oferecidos à população e também realizados exames para diagnóstico da doença no Centro de Saúde Escola, a partir das 9 horas da manhã.

 Informe ENSP: Qual é a maior motivação para a realização destas ações no território de Manguinhos?

Ziadir Coutinho: O país não conseguiu cumprir o compromisso firmado, em 1991, com a Organização Mundial da Saúde (OMS) de eliminar hanseníase como problema de Saúde Pública até o ano 2000, ou seja, alcançar a meta de reduzir a prevalência para menos de 1 caso/10 mil habitantes. Dada as atuais circunstâncias do país, é urgente que se faça algo para combater o crescimento dessa incidência. Para tanto, em parceria com os médicos José Augusto Nery, Anna Salles e Emanuel Rangel – todos profissionais do ASA/IOC/Fiocruz – foram realizadas diversas palestras voltadas para os profissionais do Centro de Saúde Escola da ENSP e também da Clínica da Família Victor Valla. Assim, conseguimos alcançar todos os profissionais que cobrem este território. O objetivo dessas ações é, principalmente, sensibilizar os componentes das equipes de saúde e atualizar esses profissionais sobre informações da área, a importância do diagnóstico clínico, o tratamento e a avaliação fisioterápica da hanseníase.


Informe ENSP: Quais são as formas de apresentação da hanseníase, contágio e tratamento?

Ziadir Coutinho: A hanseníase é uma doença endêmica no país. Trata-se de uma infecção causada pelo micobacterium leprae, também chamado de bacilo de Hansen. Sua transmissão ocorre pela inalação de bacilos eliminados nas secreções das vias respiratórias de doentes sem tratamento. Entretanto, a maioria das pessoas que entra em contato com o doente não adoece. Após 2 a 10 anos de contágio, surgem alterações na pele e/ou nos nervos, mas órgãos como olhos, fígado, baço, testículos e outros podem ser afetados se a doença não for tratada.

A hanseníase se manifesta na pele como manchas de aparecimento lento e progressivo em qualquer área do corpo, cuja principal característica é a perda variável da sensibilidade ao calor, ao frio, à dor ou ao tato. Essas manchas têm cor esbranquiçada, avermelhada ou castanha, mas podem ser pouco perceptíveis também. As lesões nos nervos causam formigamento, dor e choque nos membros, diminuição ou perda da força muscular das mãos, dos pés, da face e dos olhos. Podem levar a sequelas importantes, como mão em garra, pé caído, feridas que não cicatrizam, paralisia facial e limitação ao fechamento dos olhos.

Outros sintomas possíveis de ocorrer são feridas indolores no corpo, sangramento, entupimento ou crostas no nariz, queda dos cílios e das sobrancelhas, ínguas indolores no pescoço, nas axilas e nas virilhas, aumento do baço e do fígado, e irritação nos olhos. Ocasionalmente, a hanseníase pode se apresentar apenas com alterações da sensibilidade, sem nada visível na pele e nenhum outro sintoma.  

O mais importante de ser destacado é que a hanseníase tem cura e é tratada gratuitamente nas unidades básicas de saúde. O Centro de Saúde Escola da ENSP não trata a hanseníase, mas diagnostica e encaminha para o ASA/IOC, unidade de referência para esta doença no campus Manguinhos da Fiocruz. O tratamento cessa a transmissão logo no começo e, quando iniciado precocemente e feito de maneira regular, sem intervalos e abandono, evita sequelas.  

Informe ENSP: Por que a importância de se fazer exames em todas as pessoas que lidam com um doente diagnosticado?

Ziadir Coutinho: Quando identificamos de fato um portador de hanseníase temos o que chamamos de caso índex, que é o paciente diagnosticado, e os comunicantes. Estes são todas as pessoas que lidam de maneira íntima e frequente com um doente, ou seja, os conviventes. Na cadeia epidemiológica da hanseníase, os comunicantes são apontados como os indivíduos que apresentam maior risco de adquirir a doença. Porém, isso tem sido pouco valorizado. E existe uma baixa desses exames nesse público. A questão é que a pesquisa com essas pessoas também otimiza o controle da doença, pois, muitas vezes, as famílias representam focos de doença.

Informe ENSP: Qual o papel dos profissionais da Estratégia de Saúde da Família no controle da hanseníase no país?

Ziadir Coutinho: O ganho se dá, em especial, pelo diagnóstico precoce e o incentivo ao tratamento regular e ininterrupto. Os agentes de saúde são os profissionais de saúde que chegam mais próximo da população e conhecem de perto sua realidade. Isso permite o acompanhamento total dos pacientes, auxílio ao não abandono do tratamento, busca ativa de comunicantes, entre outros.  Por isso é tão importante que esses profissionais também participem de treinamentos, atualizações e estejam sempre sensibilizados com esta causa.

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