De todas as cartografias da mente
desenvolvidas pela espécie humana, o ioga é uma das mais antigas e complexas.
Por meio de exercícios de respiração, postura, vocalização, meditação e outros
mistérios, o ioga construiu uma reputação milenar como prática saudável.
Segundo os upanixades, escrituras hindus cujas origens datam dos tempos do Buda
(cerca de 400 a.C), “não conhece doença, velhice nem sofrimento aquele que
forja seu corpo no fogo do ioga. Atividade, saúde, libertação dos
condicionamentos, circunspecção, eloquência, cheiro agradável e pouca secreção
são os sinais pelos quais o ioga manifesta seu poder”.
Entre os adeptos, acredita-se que
a atividade proporciona melhoria da memória e redução da tensão emocional. Os
efeitos benéficos sobre a cognição podem derivar dos exercícios de atenção
ativa sobre a respiração e os músculos.
Por outro lado, o favorecimento
do intelecto talvez seja indiretamente obtido pela atenuação de condições
psicologicamente debilitantes associadas com déficits, como a depressão.
Estudos científicos apoiam a
ideia de que os benefícios do ioga decorrem da regulação do eixo
hipotálamo-pituitária- adrenal e do sistema nervoso autônomo. Entretanto,
diversos fatores prejudicam a interpretação dos resultados.
Em primeiro lugar, os estudos não
controlaram os efeitos intrínsecos ao exercício físico, utilizando como grupo
controle pessoas que não fazem a atividade física regularmente.
Além disso, a maioria dos estudos
investigou os efeitos do ioga associada com medicação, dietas e outras terapias.
Finalmente, a maioria dessas pesquisas foi realizada em populações orientais
culturalmente predispostas a essa prática.
Buscando a resolução dessas
dúvidas, a neurocientista Regina Silva e seu doutorando Kliger Rocha, do
Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (FRN), lideraram uma equipe de investigação sobre os efeitos do
ioga na memória, medidas psicológicas e níveis de cortisol em brasileiros
adultos.
Trinta e seis homens sem
conhecimento prévio do ioga, integrantes do Exército Brasileiro, fora
submetidos ao experimento por um período de seis meses.
Um grupo participou de duas aulas
de ioga por semana, mais duas aulas de
exercícios físicos convencionais. Outro grupo (controle) participou
apenas de exercícios físicos (quatro aulas por semana).
Verificou-se ao final do
experimento que o ioga promoveu uma diminuição dos parâmetros psicológicos
relacionados à depressão, estresse e ansiedade, bem como uma melhoria do
desempenho mnemônico em uma tarefa de reconhecimento de palavras, tanto no
curto quanto no longo prazo.
Houve também uma significativa
redução dos níveis de cortisol, hormônio diretamente envolvido na resposta ao
estresse. Os efeitos nessa população ocidental não exposta a outras terapias
adjuvantes superaram os efeitos simplesmente relacionados à prática física
convencional.
Os resultados, recém-publicados
no periódico científico Consciousness and Cognition, generalizam e corroboram
os benefícios específicos da prática. Com certeza há muitas outras fronteiras
científicas a explorar nos arcanos segredos do ioga, herança poderosa a
iluminar a auto descoberta humana.
Fonte: Mente e Cérebro
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