quarta-feira, 21 de março de 2012

Atenção primária é debatida em evento internacional


O segundo dia do Seminário Internacional Integração Assistencial em Redes de Atenção à Saúde foi marcado pela discussão dos temas modelos de atenção; atenção primária; atenção especializada ambulatorial e hospitalar; cuidados prolongados, paliativos e reabilitação. A mesa redonda Modelos de atenção: perfis e coordenação assistencial, realizada na manhã de terça-feira (20/3), na ENSP, contou com a participação do diretor-geral do Consórcio Hospitalar da Catalunha, Ramon Cunillera, do diretor de Atenção Primária da Catalunha, Jose Luis Fernández, da coordenadora e responsável pela rede de Tarragona, Encarna Grifell, e do diretor do Centro Sócio-Sanitário da Catalunha, Joan Cunill. Confira as apresentações dos palestrantes na Biblioteca Multimídia da ENSP.

Dando início à primeira palestra da tarde, Arquitetura do modelo de atenção: níveis e gestão de processos assistenciais, o diretor-geral do Consórcio Hospitalar da Catalunha, Ramon Cunillera, falou sobre o modelo Catalão de atenção sanitária pública, que possui separação de funções, diversidade de provedores e conformação de redes assistenciais integradas. Ramon citou também as redes de atenção integrada. Segundo ele, uma rede integrada de serviços de saúde é um conjunto de organizações que prevê atenção coordenada de uma série de serviços de saúde a uma determinada população e se responsabiliza pelos custos e resultados de saúde dessa população. O objetivo das redes de atenção integradas é melhorar a continuidade através da coordenação e da eficiência global da provisão.

O diretor apontou também os elementos necessários para melhorar a continuidade assistencial e a eficiência. Para isso, segundo ele, são necessários três modelos: o de provisão, que permite dirigir todos os níveis assistenciais de um território; o de organização, que dá prioridade ao processo assistencial e ao paciente (antes da produtividade e do interesse profissional); e o de contratação, que não entorpece a resolução dos problemas com a melhor relação custo-efetividade. Ainda segundo Ramon Cunillera, a mediação de médicos de Atenção Primária (AP) entre o paciente e a Atenção Especializada (AE) beneficia os sistemas de saúde. “Dessa forma, os sistemas ganham em eficiência porque reduzem o número de pacientes que se tratam em AE – mais cara – por dois motivos: resolvem os problemas com menos recursos e diminuem as incidências graças aos programas de prevenção”, afirmou.

Em sua apresentação, Ramon citou também a integração e seus instrumentos nos níveis macro, médio e micro. A reordenação do mapa sanitário em função da construção das redes integradas; o método de compra de base populacional em relação a necessidades segundo a morbidade; a disponibilidade de informação analítica do conjunto do sistema; e a avaliação do contrato por resultados das redes assistenciais foram apontados pelo diretor como instrumentos para uma macrointegração. No nível médio, Ramon citou as organizações integradas horizontal e verticalmente; os sistema de informação para a rede com acesso a todos os sub-sistemas clínicos de apoio diagnóstico e terapêutico; a categorização da demanda – classificação dos pacientes segundo complexidade; a disponibilidade de informação analítica em tempo real em todos os centros; a responsabilidade compartilhada e o alinhamento de objetivos.

Por fim, no nível micro, listou como instrumentos de integração a nova cultura profissional, que abrange a mudança nos estilos de prática e maior transparência; a modificação de guias de prática clínica em função de novos instrumentos – construção de novos mapas de processo, a disponibilidade de informação analítica em tempo real para cada profissional; o acesso à inovação tecnológica; e o incentivo em objetivos de coordenação e eficiência.

Acessibilidade, integralidade, longitudinalidade e coordenação: características da atenção primária

Para falar sobre a Atenção primária: funções, interfaces e coordenação clínica, o diretor de Atenção Primária da Catalunha, Jose Luis Fernández, enumerou quatro características básicas da APS, entre elas: acessibilidade, integralidade, longitudinalidade e coordenação. Segundo ele, a acessibildade corresponde à capacidade de responder às demandas de saúde da população, por meio de serviços e ações de saúde próximos à população. Já a integralidade está ligada à capacidade de resolver a maioria dos problemas de saúde da população atendida. A capacidade de acompanhamento dos diferentes problemas de saúde de um paciente pela mesma equipe está atrelada à longitudinalidade e a coordenação compreende a capacidade de exercer liderança integradora, para maximizar os resultados das ações dos serviços de saúde.

Em seguida Jose Luis falou sobre a reforma da atenção primária na Espanha e citou dados históricos, como a reforma da Previdência Social, em 1977, o reconhecimento da especialidade Medicina Familiar e Comunitária, em 1978, e a Lei Geral da Saúde, em 1986, entre outros. No âmbito da Lei Geral da Saúde, o diretor apontou a divisão do território em áreas básicas de saúde (ABS) e a designação da população do território para cada ABS.

Em relação ao conteúdo das prestações de Atenção Primária à Saúde na Espanha, elecita a promoção da saúde individual, familiar e comunitária, que engloba a prevenção das doenças; o controle epidemiológico; os cuidados agudos e crônicos de saúde e social; e as pesquisas e a formação de especialistas em Medicina Familiar e Comunitária. Segundo Jose Luis, a atenção primária é o pilar do sistema de saúde da Catalunha. “O serviço de saúde catalão é responsável pela distribuição dos recursos econômicos e compra de serviços, além da diversidade de fórmulas de gestão, descentralização da organização, que envolve a estrutura territorial, o acesso equitativo aos serviços para os cidadãos – a Catalunha possui 65 hospitais, 356 Áreas Básicas de Saúde e 400 Centro de Atenção Primária – e, ainda, a participação comunitária formalizada na estrutura, que envolve os conselhos de direção e participação”, apontou.

Sobre os Centro de Atenção Primária, o diretor apontou que são responsáveis pela promoção da saúde (educação para a saúde, saúde pública); prevenção das doenças (individual e coletiva) e cuidados (cuidados no CAP e domiciliar e assistência às urgências). Jose Luis citou, também, o trabalho multidisciplinar das Equipes de Atenção Primária (EAP), que, segundo ele, trabalham de forma diretiva, com profissionais em tempo integral e com médicos especialistas em Medicina Familiar e Saúde da Comunidade, além de possuir especialistas de enfermagem familiar e comunitária e incorporar outras cinco especialidades: pediatras, odontólogos, parteiras, assistentes sociais e farmacêuticos.

Atenção especializada e atenção sócio-sanitária na Catalunha

Dando início à mesa Atenção especializada ambulatorial e hospitalar na Catalunha: funções e interfaces, a coordenadora e responsável pela rede de Tarragona, Encarna Grifell, abordou os conceitos e características gerais da atenção especializada hospitalar e ambulatorial, a coordenação com outros níveis e dispositivos do sistema e algumas de suas ferramentas, a segurança de pacientes e os desafios atuais dos sistemas de saúde. “A atenção especializada é o segundo nível de acesso dos cidadãos à assistência sanitária e atua como referência e consultora da atenção primária. Na Catalunha, ela compreende atenção hospitalar, atenção sócio-sanitária, atenção psiquiátrica e saúde mental, atenção à drogodependência, outros recursos de atenção especializados, como diálises, por exemplo, e atenção farmacêutica”, afirmou.
Encarna Grifell apontou algumas características gerais da Atenção Especializada, entre elas o modelo hospitalar territorial, que está baseado em hospitais comarcais básicos, que assumem os pacientes de determinadas Áreas Básicas de Saúde (ABS) e têm hospitais regionais de maior complexidade de referência. Segundo ela, todos os hospitais dispõem de serviços de urgências/emergências com classificação de nível de urgência segundo modelo de cinco níveis validado. “Todos os hospitais na Catalunha dispõem de mecanismos de gestão interna e de avaliação do desempenho que permitem a translação dos objetivos do contrato e da instituição a todos os profissionais. Todos têm autonomia de gestão, o que lhes permite desenvolver fórmulas próprias de organização, pactos, alianças, compras, contratações, além de todos se conformarem à Rede Hospitalar de Utilização Pública, independentemente de sua titularidade, acreditados pela autoridade sanitária”, destacou.

De acordo com a coordenadora, o modelo hospitalar territorial da Catalunha está baseado em hospitais distritais básicos que assumem os pacientes de determinadas ABS e têm hospitais regionais de maior complexidade de referência. Em seguida, Encarna falou sobre a Unidade de Gestão do Paciente, que tem por objetivo facilitar o acesso da população aos serviços de atenção especializada em regime ambulatorial ou de hospitalização, no que se refere à documentação clínica e administrativa. A coordenadora citou, ainda, o Circuito de Diagnóstico Rápido de Câncer (DRC), que visa reduzir o tempo decorrido entre a suspeita fundamentada de câncer e seu diagnóstico e tratamento, sendo o último atribuível ao sistema sanitário. “O DRC visa, ainda, reduzir o nível de ansiedade dos pacientes que apresentam sintomas compatíveis e melhorar a qualidade do processo assistencial nos casos de câncer ou de suspeita de câncer”, explicou.

Encarna Grifell citou a consulta virtual sem paciente, que tem por objetivo melhorar a acessibilidade à consulta do médico especialista, evitando demoras e deslocamentos desnecessários, através da informação clínica. De acordo com ela, a ação visa à solicitação de consulta com informação clínica e provas diagnósticas, que é programada diretamente na agenda do especialista e, em seguida, se autoprograma uma consulta para revisar resposta em um máximo de sete dias. Por fim, a coordenadora apontou desafios da Atenção Especializada, como a melhora da acessibilidade, coordenação, qualidade e segurança; a modificação do papel dentro da rede – hospital mais relacionado, aberto e flexível; avanços na ambulatorização da Atenção Hospitalar; a racionalização de procedimentos de alta complexidade; e a sustentabilidade.

Centro Sócio-Sanitário da Catalunha possui quatro grandes linhas de atenção


Encerrando a mesa redonda Modelos de atenção: perfis e coordenação assistencial, o diretor do Centro Sócio-Sanitário da Catalunha, Joan Cunill, abordou a atenção sócio-sanitária na Catalunha. Segundo ele, a missão da atenção sócio-sanitária é melhorar a saúde das pessoas incluídas em quatro grandes linhas de atenção: geriatria; doença de Alzheimer e outras demências; cuidados paliativos; e doenças neurodegenerativas. “Utilizamos o recurso de longa permanência para pessoas que precisam de uma atenção sanitária de forma continuada, que padecem de doenças ou processos crônicos e diferentes níveis de dependência, com diversos graus de complexidade, e que não podem ser atendidos no seu domicílio ou centro residencial”, explicou ele.

De acordo com Joan Cunill, os cuidados paliativos são destinados a pessoas com doenças em situação avançada, irreversível ou terminal, que requerem tratamento específico paliativo em regime de hospitalização. O diretor falou sobre o Programa de Atenção Domiciliar Equipe de Suporte (Pades), que corresponde a uma equipe especializada e tem como função dar suporte às equipes de Atenção Primária, especialmente no âmbito domiciliar, a doentes geriátricos complexos e doentes paliativos. Ainda segundo ele, o Pades não substitui a Atenção Primária, sua intervenção é complementar e, portanto, eles devem coordenar-se. Joan citou também a Unidade Funcional Interdisciplinar Sócio-Sanitária (Ufiss), uma equipe especializada cuja função é dar suporte às equipes assistenciais dos hospitais de agudos e intervir em doentes geriátricos complexos e doentes paliativos.

Outro ponto apontado pelo diretor foi a avaliação integral ambulatória, cujo objetivo é estabelecer um diagnóstico, mediante um processo de avaliação interdisciplinar, e estabelecer uma estratégia terapêutica adequada. Em seguida, Joan abordou a Atenção Domiciliar à Complexidade (ADC), um conjunto de programas assistenciais orientados à atenção do paciente complexo crônico no seu meio habitual. A ADC está baseada no modelo de Cuidados Intermediários do Departamento de Saúde da Grã Bretanha e da British Geriatrics Society. “A experiência clínica mostrou à ADC um eixo importante no processo assistencial dos pacientes complexos, além de fazer um eixo entre a atenção hospitalar sócio-sanitária e a atenção primária”, destacou.


Segundo Joan, o objetivo principal da ADC é priorizar a atenção e intervenção sócio-sanitária coordenada do paciente complexo, evitar reingressos hospitalares/sócio-sanitários desnecessários; evitar institucionalizações; evitar e reordenar a polifarmácia; priorizar a máxima autonomia e o máximo bem-estar do paciente e da família; e ser o nexo entre níveis assistenciais, facilitando as transições. Por fim, o diretor afirmou que os serviços sócio-sanitários na Catalunha são plenamente consolidados em suas quatro linhas de atividade, despregados em todo o território, possuem dispositivos em todos os níveis assistenciais e grande capacidade de adaptação, além de serem um elemento chave para a atenção ao paciente crônico complexo. “Nosso grande desafio é conseguir a integração das prestações sociais e os serviços de saúde e a intervenção simultânea dos dois âmbitos, especialmente no nível domiciliário”, concluiu Joan.




0 comentários:

Postar um comentário

 
Design by Wordpress Theme | Bloggerized by Free Blogger Templates | JCPenney Coupons