terça-feira, 27 de novembro de 2012

Reumatismo nos idosos



Dr. Cristiano Augusto de Freitas Zerbini é médico, diretor do Serviço de Reumatologia do Hospital Heliópolis (SP) e membro do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo (SP). José Olímpio Filho é metalúrgico aposentado, tem 72 anos e é portador de reumatismo.



Os leigos chamam de reumatismo qualquer doença que provoque dores nas juntas das mãos, joelhos, cotovelos e ombros. Segundo a literatura médica, porém, o conceito de reumatismo é amplo e engloba mais de 200 tipos diferentes de enfermidades (gota, artrite reumatoide, artrose (osteoartrite), lúpus eritematoso, febre reumática, etc.) que podem acometer qualquer órgão do organismo e não apenas as articulações.

A febre reumática, por exemplo, causada por uma cepa de estreptococos que infecta a garganta, é uma doença secundária que se manifesta nas crianças. Além de dores nas articulações, também pode causar lesões nas válvulas cardíacas. O lúpus eritematoso, outra doença reumática, é responsável por danos em quase todos os órgãos, especialmente nas articulações, coração, fígado, pulmões e rins.

Nas pessoas com mais idade, o tipo mais comum da doença conhecida pela denominação genérica de reumatismo é a artrose, também chamada de osteoartrite, osteoartrose ou doença articular degenerativa, um processo doloroso que acomete principalmente as articulações do joelho, do fêmur com o quadril, da coluna cervical e lombar, a última articulação dos dedos das mãos e se transforma num fator limitante que compromete a qualidade de vida.

ARTROSE

Drauzio – Quais são os principais tipos de dores articulares que podem acometer os mais velhos?

Cristiano Zerbini – A doença mais comum classificada sob a designação genérica de reumatismo, que se manifesta nas pessoas acima dos 60, 65 anos, é a artrose. Sua principal característica é o desgaste da cartilagem articular, um tecido maleável que tem a função de amortecer o impacto e evitar o atrito entre dois ossos. No joelho, por exemplo, a cartilagem impede o atrito do fêmur com a tíbia. À medida que ela se desgasta, aumenta o contato entre as extremidades desses dois ossos toda a vez que a pessoa se movimenta.

O sintoma mais marcante da artrose é a dor. O interessante é que muitas pessoas relacionam essa dor com as mudanças de temperatura. Esfria um pouco, os músculos ficam mais rígidos e aparece uma dor que não se manifestava nos dias mais quentes. “Eu sei quando vai chover, porque o meu joelho dói” é uma queixa comum dos portadores de artrose.

Drauzio – Quando o senhor começou a sentir dor no joelho?

José Olimpio Fº – Em 1958, sofri um acidente e arrebentei o joelho, que nunca mais voltou ao normal. Eu sempre fazendo tratamento, mas a dor ora melhorava ora piorava. De dez anos para cá, porém, a coisa arruinou de vez. Agora, o médico acha que devo colocar uma prótese e vou ser operado.

Drauzio – Como é essa dor?

José Olimpio Fº – A dor é na rótula e aparece quando ando. Principalmente se eu pisar em falso, ela é terrível. Parece que desloquei o joelho, que fica muito inchado.

Drauzio – Seu José sofreu um trauma no joelho, que nunca mais voltou ao normal. Foi o trauma que desencadeou o processo de artrose?

Cristiano Zerbini – A história de Seu José é clássica da artrose. Provavelmente, ele já tinha um grau de artrose pequeno, quando sofreu o trauma que acentuou o desgaste. Com o passar do tempo, ele foi perdendo a cartilagem, que deveria revestir a extremidade dos ossos para amortecer os impactos, e passou a sentir dor. Quando descansa, a dor articular desaparece, porque o atrito diminui. Mas, quando sobe ou desce escadas, por exemplo, coloca o peso do corpo sobre os joelhos ou quando tensiona a articulação, ela piora.

Drauzio – Além do joelho, em que outras áreas do corpo pode aparecer a artrose?

Cristiano Zerbini – O processo de artrose é mais doloroso e incapacitante fisicamente, quando se instala no joelho e no quadril. O fêmur é um osso longo que se articula numa extremidade com o osso da bacia e, na outra, com a tíbia . Na parte superior, possui uma cabeça esférica protegida por tecido articular que facilita sua movimentação. Qualquer irregularidade na cabeça do fêmur impede que ela se encaixe perfeitamente na pelve e isso causa muita dor. Há um ponto em que ela é tão intensa, que nem mesmo o exercício e a medicação conseguem controlá-la, o que obriga substituir a articulação por uma prótese, um procedimento simples que os ortopedistas brasileiros fazem com facilidade e rotineiramente.

Outro local em que pode ocorrer artrose é a coluna vertebral que é constituída por 33 vértebras: sete cervicais, doze torácicas, cinco lombares, cinco sacrais e quatro coccígeas. . A artrose acomete as regiões cervical e lombar da coluna, ou seja, os locais em que ela se movimenta. No tórax, e na fusão do osso sacro com o cóccix, ela é estática.

A artrose pode manifestar-se também nas mãos. Nesse caso, o componente genético tem grande peso. Um dos sinais da doença é a formação de pequenos nódulos parecidos com calos na última articulação da falange (articulação interfalangiana distal), chamados nódulos de Heberden.

ARTRITE REUMATOIDE

Drauzio – Existe uma lesão nas mãos que, em vez de acometer a última articulação dos dedos, acomete a primeira articulação. Seu José tem esse problema. Suas mãos doem, seu José?

José Olimpio Fº – Doem demais. Não posso pegar determinados objetos, porque a mão não suporta o peso e eles caem.

Drauzio – A dor é mais forte de manhã, quando o senhor acorda?

José Olimpio Fº – É mais forte de manhã, na hora que acordo. Depois que tomo o medicamento, ela vai desaparecendo, mas não some totalmente. Agora, por exemplo, não está doendo, mas se eu fechar a mão ou pegar um objeto, as articulações doem.

Drauzio – Seu José tem um problema nas primeiras articulações dos dedos das mãos. Ele acorda com dor, não consegue fechar a mãos, mas devagarinho ela vai melhorando. Esse quadro é característico de que doença?

Cristiano Zerbini – Seu José mencionou a dor nas juntas localizadas no meio dos dedos da mão, que estão inchadas, e a rigidez matinal. Ele acorda e sente que a mão está dura, difícil de abrir e fechar. Às vezes, não sente dor, mas a rigidez é um sintoma constante que custa a melhorar. Seu José esqueceu de mencionar que também sente dor no punho. Esses sintomas são próprios da artrite reumatoide, uma enfermidade que provoca muita inflamação e que, se não for tratada adequadamente, pode causar certo grau de destruição articular e incapacidade física.

ARTRITE e ARTROSE

Drauzio – O que diferencia a rigidez matinal provocada pela artrite reumatoide da provocada pela artrose?

Cristiano Zerbini — A diferença está na permanência do sintoma. Na artrose, a rigidez matinal dura em média de dez a quinze minutos; na artrite reumatoide, demora a passar.

Seu José tem um acometimento próprio da artrite reumatoide (inchaço e dor nas articulações localizadas no meio dos dedos das mãos e no punho) e outro próprio da osteoartrose, no joelho.

TRATAMENTO

Drauzio — Resumindo: a osteoartrose atinge mais as articulações distais das mãos e a artrite reumatoide, as primeiras. Nos dois casos, a pessoa acorda com a mão rígida. Na osteoartrose, essa rigidez passa em dez, quinze minutos; na artrite reumatoide, permanece por mais tempo.

Cristiano Zerbini – É importante repetir que artrose é um desgaste da articulação que aparece com a idade. Raramente uma pessoa tem artrose aos 20 anos. No entanto, depois dos 70 anos, mais de 50% das pessoas são portadoras desse distúrbio.

Quando o processo inflamatório da artrose é eventual, o critério de tratamento é indicar pouco remédio e muito exercício para fortalecer e alongar a musculatura. Quando a articulação dói, recomendamos um pouco de repouso. Descansar no começo da tarde ajuda a aliviar a pressão sobre as juntas.

Drauzio – O que é melhor: aplicar calor ou frio?

Cristiano Zerbini – O calor é um excelente relaxante muscular. Por isso, quando não há sinal de inflamação, nem a região está quente e vermelha, ele é muito bom para o relaxamento dos tendões, dos ligamentos, da musculatura e para aliviar a dor.

Quando a articulação está inflamada, o ideal é colocar gelo. No caso do joelho, por exemplo, se estiver inchado, vermelho e quente (sinais típicos da inflamação), o mais indicado é protegê-lo com um pano e fazer aplicações de gelo durante quinze minutos, quatro vezes por dia.

Drauzio – Nos quadros de artrose, os medicamentos anti-inflamatórios podem ser usados para tirar a dor, mas o mais importante é fortalecer a musculatura. Qual é o tratamento indicado para a artrite reumatoide?

Cristiano Zerbini – O tratamento da artrite reumatoide exige o uso de medicamentos que impeçam a recorrência das crises de inflamação. Se não conseguirmos detê-las, as juntas serão definitivamente lesadas.

Para entender o que acontece, imaginemos uma cidade atingida por uma forte tempestade que causou inundação, derrubou árvores, destruiu casas. No dia seguinte, nova tempestade e mais inundação, mais árvores derrubadas, mais casas destruídas. Se as tempestades continuarem caindo dia após dia, a cidade inteira será arrasada. Crises inflamatórias articulares são tempestades. Se não forem controladas, comprometerão as juntas para sempre.

Felizmente, há mais ou menos seis anos, surgiram medicamentos muito potentes que combatem a inflamação, dificultam o aparecimento de novas crises e mantêm a doença em remissão. Embora não se possa falar em cura, eles atuam sobre a incidência e a duração das crises e, consequentemente, ajudam a preservar as juntas e a capacidade física.



Drauzio – Seu José, o senhor usa remédios diferentes para tratar as duas doenças?

José Olimpio Fº – Não, o remédio é o mesmo e deve ser tomado diariamente.

Drauzio – O senhor suporta bem a medicação?

José Olimpio Fº – Suporto, mas tenho de tomar também um remédio para a gastrite, porque o outro ataca um pouco o estômago.

Drauzio – Quais são os efeitos colaterais dessa medicação?

Cristiano Zerbini – Seu José toma um medicamento anti-inflamatório para deter o processo inflamatório da artrite, que também age sobre a dor eventualmente provocada pela artrose. Além desse, toma um protetor gástrico, já que o uso contínuo de anti-inflamatórios pode induzir gastrite ou até a formação de uma úlcera. Esse é o efeito colateral mais importante do anti-inflamatório, mas ele pode provocar também aumento da pressão arterial, retenção de líquidos e alterações na função do fígado e dos rins. Pessoas com mais idade exigem cuidados especiais, pois esses órgãos não têm mais a mesma reserva dos 20 anos, e qualquer desequilíbrio ou agressão pode fazer-lhes muito mal.

Por isso, pacientes que tomam remédio para artrose e artrite reumatoide precisam de controle periódico das funções gástrica, renal e hepática, a fim de garantir que o custo/beneficio da medicação está sendo vantajoso para eles.

Drauzio – De quanto em quanto tempo os exames devem ser repetidos?

Cristiano Zerbini – Inicialmente, o acompanhamento é feito mensalmente, depois a cada dois meses. Quando temos certeza de que os pacientes estão se dando bem com os remédios, os exames são repetidos a cada quatro meses. Só é aconselhável fazê-los de seis em seis meses, quando o médico tem certo conhecimento da resposta do paciente à medicação.

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