sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Os Medos dos Profissionais



Os Medos Dos Profissionais

De um lado, estão as empresas, que exigem que seus funcionários cumpram metas e prazos agressivos, sejam pró-ativos, criativos, ousados, trabalhem em equipe, entre uma série de funções. No outro lado, existe o próprio funcionário, que, por conta dessas exigências, vive se perguntando se ele está no caminho certo, se é um bom profissional, se age de acordo com os ideais da organização. E rodeando esses dois lados, está o medo, sentimento comum a todos os seres humanos. Saiba que o medo, na medida exata, pode ser benéfico. Mas, em exagero, pode atrapalhar, e muito, a sua carreira.

O medo é fundamental para a sobrevivência das espécies, segundo os especialistas. Pois sem o medo, seria fácil encontrar um rato enfrentando um leão ou um motorista dirigindo sem nenhum cuidado ou atenção. No entanto, a importância e o peso que esse sentimento tem muda conforme a cultura do país. “No Japão, por exemplo, perder o emprego é visto de forma dramática. Em casos extremos, muitos chegam a cometer o suicídio”, explica José Roberto Heloani, professor da Fundação Getúlio Vargas e autor do livro Assédio Moral no Trabalho, da editora Cengage Learning.

No campo profissional, o impacto do medo nas pessoas foi mais fortemente percebido nas duas ou três últimas décadas. E isso não significa que nossos pais não tivessem medo de perder o emprego ou temer o insucesso. Com o desenvolvimento da economia, houve o crescimento do medo. Assim como a economia é muito dinâmica, as empresas passaram a exigir que seus funcionários também se tornassem mais competitivos e acompanhassem as constantes mudanças nas organizações. “Se num passado recente, nossos pais permaneciam 20 ou 30 anos em uma mesma empresa, hoje, essa realidade é completamente diferente. Antes, as funções eram claras. Hoje, as regras podem mudar a qualquer momento, e isso gera uma série de temores e fantasmas”, explica José Roberto Heloani.

Com esse cenário, é muito comum que os profissionais passem a ter dúvidas sobre a sua identidade profissional e seus próprios interesses naquela organização. O contrário também é válido. “Portanto, ‘Quem sou eu?’ e ‘O que sou capaz de fazer?’ são duas grandes perguntas do mundo corporativo”, explica o professor. Complementando este cenário, as pessoas passaram a fazer o trabalho que antes era feito por duas, ou às vezes, até três pessoas. Além disso, chegam cedo, saem tarde, se alimentam mal, dormem mal e pouco e ainda estão submetidas a altas cargas de stress. Não há como não se sentir pressionado pelo trabalho! E toda essa pressão pode gerar diversos medos nos profissionais como: medo de tirar férias, de liderar equipes, medo de opinar, medo de ser demitido, entre outros.



Medos reais e irreais

Os profissionais que estudam o assunto, explicam que existem medos reais e medos não reais ou, chamados de Fobias Sociais. Quem explica o assunto é Tito Paes de Barros Neto, psiquiatra do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e diretor do Centro Psicológico de Controle do Stress – CPCS. “O medo da concorrência com o seu colega de trabalho é bastante real, assim como o medo de perder o emprego. Já, os medos não reais podem ser representados pelas pessoas que não conseguem expor suas idéias, tem dificuldades de se expressar ou não conseguem liderar uma equipe”, explica Tito de Barros Neto. Normalmente, isso acontece porque essa pessoa tem receio de ser avaliada e não ser aprovada. “Mas esse é um sentimento daquela pessoa e não dos ouvintes. E esse problema se repete tanto na vida pessoal quanto na profissional”, complementa.

Para Tito de Barros Neto, geralmente as pessoas que apresentam estas fobias sociais podem ter a auto-estima baixa. “A pessoa é inteira negativa. No geral, elas têm uma imagem ruim de si mesmas e pensam que os outros acham ruim tudo que possa vir deles”. Para pessoas com esse problema, basta que seu chefe chegue de mau humor para achar que ele será demitido, mesmo não tendo nada a ver com o assunto. E, se esse medo não for controlado, a pessoa pode perder ou pedir para sair do emprego.

E realmente o medo exagerado pode impactar a carreira de qualquer profissional, independente da idade. “Em meu consultório, já atendi um senhor de quase 70 anos que tinha medo de não conseguir desenvolver suas atividades profissionais a contento. Ele nunca chegou a procurar um profissional porque achava que isso fazia parte de sua personalidade”, lembra Tito de Barros Neto.

Outro medo bastante comum está relacionado com a dificuldade em se expor em público. “Por receio de receber críticas, mesmo sabendo que sua opinião está correta, o profissional não se manifesta. A situação fica mais crítica quando um colega faz a mesma colocação que ele iria fazer. A pessoa fica mal consigo mesma, passa a repensar a carreira. No final, todos perdem”, explica Neuza Corassa, psicóloga Centro de Psicologia Especializado em Medos e autora do livro Vença o Medo de Dirigir - Como Superar e se Conduzir no Volante da Própria Vida, da Editora Gente.

Outro exemplo de fobia se manifesta em profissionais que planejam o crescimento da sua carreira e quando chegam lá, fazem tudo para se boicotar. Pode parecer estranho, mas são casos de pessoas que tem “medo de perder o que já conquistaram e passam a se boicotar. São pessoas que querem se manter sempre no topo, mas têm medo de não conseguir”, explica a psicóloga.



Solução

Como já foi falado, ter medo é natural e, na medida certa, é positivo. É como um desafio. “É o medo de não obter êxito que nos estimula. Já, quando o medo é exagerado, ele passa a inibir a pessoa. Isso acontece em diversos campos, como no trabalho e nos estudos”, comenta Tito de Barros Neto.

Nesse momento, quando o medo interfere negativamente, é recomendável que ela procure a ajuda de um profissional: psicólogo ou psiquiatra. Dependendo da situação, uma terapia pode resolver bastante o problema, e em casos mais sérios, remédios para controlar a depressão são ministrados. Enquanto o medo não passa, o que fazer com a rotina de trabalho? Não há uma atitude certa ou errada, segundo os entrevistados. Vai depender de cada gestor e da cultura da empresa. “É nessa hora que podemos perceber quando um líder é bom ou não. Se ele consegue manter coesa uma equipe e não deixar que os diversos fantasmas interfiram no dia-a-dia, pode estar certo que ele é muito competente”, explica José Roberto Heloani.

Dessa forma, o papel do líder é fundamental para conseguir unir a equipe e minimizar as conseqüências da inevitável agilidade e competitividade do mercado. “Em uma empresa sem a cultura do medo, todos ganham. Caso contrário, a tendência do medo se ampliar é muito grande. E o que era um fantasma, vira um monstro, o que pode afundar uma empresa,” finaliza José Roberto Heloani.



Daniel Limas

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